Planos de saúde e autismo: os obstáculos das famílias e os direitos garantidos por lei

Autismo e Plano de Saúde

Cuidar de uma criança com autismo vai muito além do afeto: é uma batalha diária por acesso a terapias fundamentais — e, muitas vezes, contra o próprio plano de saúde.

Famílias que convivem com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) conhecem bem a importância de um tratamento contínuo, especializado e multiprofissional. Mas o que muitas dessas famílias também conhecem — e enfrentam — são as constantes negativas dos planos de saúde, que dificultam ou até impedem o acesso às terapias essenciais.

Infelizmente, essa é uma realidade comum. A boa notícia é que existem leis e decisões judiciais que garantem o direito à cobertura desses tratamentos. Neste artigo, explico os principais desafios enfrentados pelas famílias e os caminhos legais para garantir o cuidado que toda criança com TEA merece.

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As barreiras impostas pelos planos de saúde:

  1. Negativas injustificadas de tratamento

A recusa na cobertura de terapias como ABA, fonoaudiologia, terapia ocupacional ou psicopedagogia é uma das reclamações mais recorrentes. Operadoras alegam que não há previsão no rol da ANS ou classificam como “tratamentos pedagógicos”. Essas justificativas, porém, não se sustentam legalmente quando o tratamento é prescrito por um profissional habilitado.

  1. Limitação da quantidade de sessões

Muitos contratos autorizam apenas um número reduzido de sessões por ano — em alguns casos, 12 ou 24 — o que é totalmente incompatível com as necessidades de uma criança com TEA, que frequentemente precisa de atendimentos semanais ou até diários.

  1. Indicação de clínicas distantes ou sem preparo

Mesmo diante da liberação do tratamento, algumas operadoras encaminham os beneficiários para clínicas distantes da residência ou com profissionais sem qualificação adequada para o atendimento de pessoas com autismo, prejudicando o vínculo terapêutico e a adesão da criança.

  1. Burocracias que atrasam o tratamento

A exigência de laudos frequentes, perícias e formulários excessivos atrasa a liberação das terapias e sobrecarrega emocionalmente as famílias — que já enfrentam uma rotina intensa de cuidados.

Direitos garantidos em lei: o que as famílias precisam saber

Apesar das dificuldades, o sistema jurídico brasileiro tem se posicionado firmemente a favor das famílias. Veja os principais direitos:

Tratamentos prescritos devem ser cobertos

Se o médico assistente indicar um tratamento, o plano de saúde tem o dever de cobrir — mesmo que ele não esteja listado no rol da ANS. O STJ (Superior Tribunal de Justiça) já decidiu que esse rol é exemplificativo, ou seja, serve como referência, mas não é uma lista fechada.

Lei Berenice Piana (Lei nº 12.764/2012)

Essa lei criou a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista e garante o direito ao diagnóstico precoce, atendimento multidisciplinar e terapias adequadas à realidade de cada paciente.

Pessoa com TEA é considerada pessoa com deficiência

De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), o autismo é reconhecido como deficiência, assegurando à criança o direito ao atendimento prioritário, inclusive no acesso aos serviços de saúde.

O que fazer diante de uma negativa do plano de saúde?
• Documente tudo. Registre laudos médicos, protocolos de atendimento, e-mails e todas as comunicações com o plano.
• Denuncie à ANS. Você pode fazer uma reclamação diretamente no site da ANS (Página Inicial ).
• Busque apoio jurídico. Um advogado especializado em Direito da Saúde pode entrar com uma ação com pedido de liminar para garantir rapidamente o início ou a continuidade do tratamento.

Conclusão: o cuidado é um direito, não um privilégio

A luta das famílias de crianças com autismo não deveria incluir uma batalha contra os planos de saúde. Quando isso acontece, é fundamental saber: há leis, decisões judiciais e instrumentos legais para defender o direito à saúde.

Se você está enfrentando esse tipo de dificuldade, não se cale. Informe-se, busque apoio jurídico e lute para que sua criança tenha acesso a tudo o que precisa para se desenvolver com dignidade.

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